As estrelas
Do cimo do moinho bem
alto, Ana Rita conseguiu ver pela primeira vez uma estrela bem perto de si.
Achou-a bonita e bochechuda embora acanhada. O seu brilho é de certeza o seu
sorriso.
João faz notar a Ana
Rita que uma das suas cinco pontas está muito magoada. Pelo que a estrela deve
estar a sofrer.
“Provavelmente um asteroide
embateu nesta estrela acabando por cair aqui no moinho em ruína”. Afirmou João.
A Estrela continua
com o seu brilhar (sorrir) mas por vezes este apaga-se para voltar a
reacender-se.
“As pedras negras nas
imediações devem ser resultado do embate com o asteroide”. Afirma Ana Rita.
Ana Rita está feliz
por estar tão próximo de uma estrela. Percebe que isso é um privilégio que a
maioria das pessoas nunca teve. Ana Rita sente por isso esta felicidade
exclusiva junto de João e ambos querem ajudar a estrela a ficar bem de saúde.
Ana Rita de tanto olhar para a estrela acaba por perceber que a estrela
respira. É durante a inspiração que as bochechas desta estrela se dilatam dando
origem ao seu brilho (sorriso). Depois a estrela expira esvaziando as bochechas
enquanto dá um pequeno descanso ao seu sorriso. Mas logo de seguida volta a
inspirar e a brilhar (sorrir).
O Moinho abandonado
onde a estrela caiu está a poucos metros de um outro moinho ainda a funcionar.
Estão no cimo de um bonito monte que faz parte de uma quinta cercada por um
muro de pedras que se encavalitam num dos lados da quinta. No outro lado da
quinta o muro é substituído por uma longa fileira de altas acácias. Esguias e
bonitas. As acácias são uma espécie de pinheiros bem cheirosos que cuidam da
sua forma não se permitindo engordar. As acácias assim alinhadas contribuem
para a beleza desta quinta que pertence à avó do João.
“Ana Rita e João, já
é de noite. Venham para casa…” Ouve-se a avó de João chamar.
“Avó. Sabes o que
encontrámos no moinho abandonado?” Pergunta João.
“Contem-me,
contem-me…” Disse a avó com alegria”. É verdade. Ana Rita os teus pais
telefonaram. Disse-lhes que jantavas cá com o João e que depois disso irias
então para casa”. Acrescentou a avó.
“Obrigado…” Respondeu
Ana Rita sorridente.
João enche-se de
coragem e resolve contar a avó a descoberta que ele e Ana Rita fizeram. “Avó
sabias que eu e Ana Rita descobrimos uma estrela magoada no moinho abandonado…”
“Sim. A luz do seu
brilhar é visível aqui da janela. A estrela com o seu brilho (sorriso) está a tentar
comunicar com os seus amigos e parentes”. Disse a avó feliz por se estarem a
entender.
“Deve de haver uma
forma de nós comunicar-mos às outras estrelas que esta estrela se encontra aqui
caída e talvez nos ajudem a saber como a devolver ao firmamento”. Disse Ana
Rita.
Acabaram de jantar e
concordaram todos em ir ao moinho abandonado para visitar mais uma vez a
estrela caída. Ana Rita e João foram a correr e depressa subiram ao topo mais
alto do muro circular do moinho.
A avó chegou em passo
vagaroso pouco depois. É interessante essa faculdade exclusiva dos avós.
Conseguem esticar o tempo que é sempre tão curto para todos os outros. “Reparem…”
disse a avó e continuou: “Agora á noite percebe-se que a estrela se esforça por
emitir raios de luz numa direção certa…”
“Se ninguém fizer
nada a população vai notar este foco de luz e sabe-se lá o que pode acontecer a
seguir…” Disse Ana Rita com a condordância de João.
“Vocês têm agora essa
responsabilidade…” Disse a avó e continuou:
“Ana Rita pelo que o João
diz tu adoras tocar violino. Verdade?”
“Sim verdade. Gosto
muito de tocar violino. Penso que gostaria de fazer isso a minha profissão
quando for adulta…” Pelo menos é o que penso agora.
“Muito bem. João
importas-te de ir buscar o violino branco da tua tia. Sabes onde está. Pode
ser?” Pergunto a avó de João.
Passado pouco tempo
João chegou a correr com o estojo do violino numa das mãos.
“Ana Rita explico-te
depois mas por agora peço-te que toques o violino. Vais ver que a estrela vai
melhorar.” Pediu a avô de João.
“O quê…” perguntou
Ana Rita sem perceber.
“Sim Ana Rita…
Tocando o violino tu vais curar esta estrela… Acredita em mim…”
João foi o primeiro a
sentar-se para em conforto poder ver mais uma vez Ana Rita a tocar o violino.
João já viu Ana Rita a ensaiar em casa inúmeras vezes. Quando Ana Rita toca, o
quarto de Ana Rita e tudo em redor de ambos adquire magia. O quarto fica com
mais luz. Fecha-se os olhos e a música do violino conta-nos histórias dóceis
sem palavras, apenas com música e visões coloridas de um mundo que fica mais
feliz por fazer-mos parte dele.
Ana Rita começa a
tocar o violino no escuro da noite que cobre a paisagem como um manto felpudo.
A música embala a paisagem que se acomoda em torno da estrela, fazendo-a
brilhar (sorrir) mais. A estrela espreguiça-se com as suas cinco pontas. Parece
querer balancear-se ora para um lado ora para o outro. Experimenta mesmo
suster-se acima do chão. Ana Rita contínua feliz a tocar o violino tendo a
certeza de contribuir para a cura da estrela.
No final do serão já
com a estrela bastante restabelecida a avó de João pergunta:
“Ana Rita podes vir
amanhã para continuares a tarefa de tocar o violino e curares esta estrela? Mais
ninguém deve saber que a estrela está aqui. Caso contrário jornalistas e
cientistas viriam para nos retirar esta estrela e privar-nos de fazer parte da
sua recuperação. Queremos fazer parte da harmonia do universo não queremos?”
Perguntou a avó com
entusiasmo.
“Sim queremos…”
Responderam João e Ana Rita. Então não vamos dizer a mais ninguém. A estrela
vai recuperar e vai ficar grata connosco ou antes com o vosso trabalho.
João e Ana Rita
deslocaram-se a suas casas e deitaram-se na cama onde adormeceram e sonharam
com outras estrelas de quem seriam agora amigos.
No dia seguinte a
estrela estava mais aprumada e mais brilhante (sorridente). João, Ana Rita e a
avó tiverem de se manter mais afastados da estrela caso contrário podiam ficar
magoados com o seu intenso calor. Por isso permaneceram fora do moinho bem
iluminado com a estrela no seu interior.
Ana Rita começou a
tocar o violino e o espaço em redor do moinho começou a ganhar vida com cores e
sombras a perseguirem-se.
Ainda que de noite a
música do violino parecia servir de pincel para uma aguarela em que as cores se
substituíam envolvendo Ana Rita, João e a avó numa teia bonita de cores e
movimentos. Nesta magia tudo se movimentava, a erva do chão, as flores, os
pirilampos, e todas as estrelas do céu. Ana Rita tocava docemente e por vezes
substituía o arco do violino com os dedos a puxarem as cordas num dedilhado
bonito.
Allegro moderato,
Allegro em crescendo e por fim a estrela subiu bem alto sorrindo e brilhando.
Ana Rita olhou para cima retirou o arco das cordas e libertou o violino do seu
ombro. A estrela estava curada e despedia-se subindo na noite escura. Lá em
cima um corrupio de estrelas acolhe-a formando um círculo com ela ao centro.
Por fim dançam na noite escura que a lua ilumina.
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